20 de jul. de 2011

 Em seu livro “Maravilhosa Graça”, Philip Yancey conta uma história memorável que tem se reproduzido com muita freqüência em nossos dias, ela é sem dúvida uma versão moderna da Parábola do Filho Pródigo. A história é de “Uma jovem criada em um pomar de cerejas na parte superior de Traverse City, no Michigan”, cujos pais costumavam reagir mal ao seu piercing no nariz, às musicas que ouviam e ao comprimento de suas saias. E isto para ela era extremamente irritante, muitas vezes, em meio às discussões ela batia a porta do quarto ao passo que gritava o quanto os odiava.
Um dia não suportando mais “a pressão” ela fugiu para uma cidade que sabia que seus pais nunca iam procurá-la, Detroit, já que noticias de violência daquela cidade chegavam constantemente assustando os moradores da pacata Traverse City.
No seu segundo dia em Detroit, ela encontrou um homem em um grande carro que lhe ofereceu carona, pagou-lhe almoço, deu-lhes algumas drogas e arranjou um lugar onde ela pudesse ficar. Não demorou muito para que aquele homem a iniciasse no mundo da prostituição e como ela era menor de idade, os homens lhe pagavam mais.
Agora ela se sentia livre, podia se vestir do jeito que quisesse, andar como sempre sonhou, chegar e sair sem gente no seu pé, sem dizer o que fazer e como viver. De quando em quando ela pensava nos seus pais, mas a sua vida em sua cidade era tão chata e provinciana que voltar para casa era idéia muito remota.
Um dia ela tomou um susto quando viu a sua foto numa embalagem de leite com a seguinte inscrição “Vocês viram esta criança?” Como se encontrava muito diferente daquela foto, com forte maquiagem e aparência de uma mulher vivida, ela tinha certeza que ninguém iria reconhecê-la.
Passou-se apenas um ano para que os sintomas de uma terrível doença aparecessem, e ela ficou surpresa da crueldade do homem que ela chamava de chefe. Ele a expulsou do apartamento em que ela morava, sem nenhum dinheiro.
Na rua, o pouco que ela ganhava era para manter o vício. Quando chegou o inverno, ela tinha que se abrigar em frente a uma loja de departamentos, contudo suas noites eram terrivelmente inseguras. À noite quando alguém se aproximava logo temia, pois, uma adolescente doente não tem muita defesa. Isto lhe custava olheiras profundas, sua tosse piorava.
Uma noite em particular ela se sentiu perdida com bolsos vazios e com a fome apertando. Aquela situação despertou uma série de lembranças e uma imagem tomava conta de sua mente; era mês de maio e na sua cidade natal milhares de cerejeiras estavam em flor, ela se lembrou do seu cachorrinho brincando entre as vicejantes árvores. E entre tantas coisas ela pensou “Meu cachorro em casa come melhor do que eu agora”. Ela não via outra possibilidade de sobreviver a não ser voltar para casa.
Criando coragem ligou para a sua casa. Três telefonemas caíram na secretária eletrônica. Nas duas primeiras vezes, ela desligou sem deixar uma mensagem; mas na terceira ela resolveu deixar uma mensagem: “Papai, mamãe, sou eu. Estive pensando em voltar para casa. Estou pegando um ônibus e chegarei amanhã lá pela meia-noite. Se vocês não estiverem me esperando, bem, acho que ficarei no ônibus e irei para o Canadá”.
Durante a longa viagem ela pensou nos erros que ela tinha cometido. “Se seus pais tivessem fora da cidade e nem tivessem ouvido a mensagem?” Não poderia ter esperado outro dia para poder falar com eles? E, mesmo se estivessem em casa, provavelmente já a consideravam morta há muito tempo para se recuperarem do choque. Ela chegou até mesmo a ensaiar uma fala “Papai, sinto muito. Sei que estava errada. A culpa não foi sua; foi minha. Papai você pode me perdoar?”. Ela repetiu isso várias vezes, pois nos últimos anos não havia pedido perdão a ninguém.
Logo que o ônibus entrou na rodoviária, o motorista ligou o microfone e anunciou:
“Quinze minutos, pessoal. É tudo que vamos gastar aqui”. Quinze minutos para decidir a sua vida.
A jovem entrou na plataforma de desembarque e o que ela viu jamais podia imaginar nem nos seus pensamentos mais otimistas. Ali estava um grupo de mais de quarenta parentes, irmãos e irmãs, tios e primos, uma avó e uma bisavó para recebê-la. Todos estavam usando chapeuzinhos de festa e assoprando apitos. Na parede do terminal havia um cartaz, dizendo: “Seja bem-vinda!”.
Se esgueirando pelo meio da multidão surge o seu pai, ela então fitando os olhos nele começa seu discurso que ela tanto ensaiara: “Papai, sinto muito. Eu sei…”. Ele sem demora a interrompe. “Não temos tempo para isso agora. Nada de pedidos de desculpas. Você vai chegar atrasada na festa. Lá em casa há um banquete esperando por você”.

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